Tuesday, 2 December 2008

Todos saudáveis, Todos iguais

E heis que foi criado o sistema de avaliação de alimentos que vai permitir aos cidadãos "escolher" mais sabiamente os componentes da sua alimentação. A verdade é que isto, em termos sociológicos, está ao nível das quantificações feitas pelos anoréticos das calorias contidas em cada alimento, mas levado ao extremo. Agora, este comportamento deixou de ser visto como doentio, para ser considerado normal, e até saudável! O sistema chama-se NuVal System, e pode ser visto aqui.
Várias são as situações futuras que se apresentam:
- pode ser algo inútil, como tantas outras, que morre passado uns tempos;
- pode ser algo que passa a ser padrão nos nossos locais de compra, mas a que ligamos muito pouco, como o preço por unidade de medida (€/Kg, p.e.);
- pode ser algo a ser seleccionado como parte dos programas de Ciências Naturais do Ensino Básico (Deus nos livre!);
- pode passar a ser utilizado, pela sua fama científica, para fazer distinções entre candidatos a órgãos, pela quantificação do estilo de vida alimentar de cada candidato;
- pode, a exemplo do que já fazem as seguradoras finlandesas, ser utilizado para calcular as prestações de seguro a pagar por uma apólice ou um empréstimo ao banco.
As críticas a fazer a este sistema são imensas. Além de não ter em conta diferentes estilos de vida, também descura as condições físicas e climatéricas diferenciadíssimas a que os seres humanos estão sujeitos. A título de exemplo, falo no velho esquimó que precisa de ingerir gordura, enquanto o atleta precisa de açúcares. Com necessidades nutricionais tão diversas, como é possível criar um sistema normalizador (e normalizante a longo prazo de outras vertentes da existência humana) que inclua e traduza fielmente qual o valor absoluto de determinado alimento. Em duas palavras: não é.
Temos de pensar que, da mesma forma que nós não somos iguais entre nós, embora sejamos da mesma espécie, todos os alimentos que ingerimos, mesmo sendo todos semelhantes, não deixam de conter diferenças que se revelam cruciais no longo curso. Outra consideração a fazer é relativa ao valor atribuído a cada tipo de alimento. Se eu quiser ser super-saudável, e sendo matematicamente objectivo, bastar-me-ia escolher sempre e em cada ocasião os alimentos com a mais alta cotação. Estaria a agir correctamente para com a minha saúde? Numa palavra: não!
Então porque teimam os jornalistas em publicitar "notícias" que mais não são que propaganda em favor da normalização, do "tudo igual", todos valores de sociedades que aprendemos a odiar e desprezar, mas que não conseguimos deixar de admirar, por causa do nosso mesquinho sentido de ganância, orgulho e procura constante da Perfeição. Sem comentários...

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