Monday 23 March 2009

Na terra da União e da Partilha

Pela acção maléfica e gananciosa, o Homem provoca a destruição do seu mundo, merecendo por isso ser castigado. As forças da Natureza abatem-se sobre o agente causador da desgraça, o que leva a uma vingança cega dos agentes sobre os seres vivos.

A Humanidade, arrependida dos seus sentimentos egoístas, volta-se para o Salvador, Aquele que aponta o caminho do sacrifício, do Bem Comum. Após a catástrofe, e porque ninguém deseja que ocorra de novo, profetas da União e da Partilha ganham o coração dos homens com promessas de nunca mais ocorrer tal infortúnio.

Mas deles pedem o último sacrifício: colocar-se abaixo da Grande Virtude, entregando o direito de decisão à União, mesmo sobre a sua vida. Colocando-se como menos que o Conjunto, o Indivíduo perde o valor, perde a identidade, perde a essência, ganhando apenas em troca o número pelo qual será reconhecido no Sistema...

O número, escrito num cartão que dará ou negará acesso às comodidades da vida na União, lentamente substituirá o nome, pela sua cientificidade, imutabilidade e impossibilidade de erro; só um cidadão tem um certo número, enquanto que o mesmo nome pode ser partilhado por vários cidadãos, o que pode levar ao erro, e indubitavelmente ao atraso no progresso que a União, através do Salvador, apregoa como essencial à sobrevivência.

Gradualmente, a característica que nos faz humanos é perdida, a capacidade de adaptação à adversidade diluí-se na facilidade de confiar na União e qualquer catástrofe futura se torna impossível de prever, pela confiança cega de todos os cidadãos no poder da União e da Partilha. Vivendo na Grande Virtude nada ocorrerá, e portanto torna-se contraproducente apostar na previsão pelo conhecimento do meio que nos rodeia, o perigoso mundo cósmico - o Universo. Milhões de pequenos corpos celestes cruzam o nosso espaço exterior, havendo em cada um um perigoso potencial destrutivo, mas a ignorância é bênção, e a confiança na União é promotora da paz interior que há tanto tempo tantos sábios procuravam vãmente. Uma última decisão foi dada a excrutínio popular, a bandeira que a partir daí todos teriam de saúdar. Pela manifestação da vossa opinião, gostava de prever qual foi a sua opção.
Opção A
Opção B
Opção C

Nesta sociedade perfeita, clone da Utopia idealizada por Huxley, mas mais real e próxima do que muitos imaginam, nada há a temer excepto fora da União, nada a prever excepto a infinidade da Perpéctua Comunhão! Esta idealização do mundo enoja-me tanto como a esterilização do Ambiente que ela exige. O Homem está invariavelmente sujeito ao exterior, ao sujo, ao pó do qual proviemos e a que todos regressaremos. Fugir-lhe é contranatura, é abjecto e prova real de imbecilidade, pois só enfrentando o mal se vence, só passando pela doença se lhe sobrevive e se lhe ganha resistência. Ninguém é imune 'porque sim', mas porque sobreviveu à prova da exposição à doença. Por isso luto dentro deste Sistema, mesmo que seja enquanto ele ainda está em formação, como no passado. O Salvador ainda assim não se intitulou, e gritarei de viva voz para que ele não o faça. Passar por louco e evitar a escravidão é melhor do que ser um herói engrilhoado!

2 comments:

Gonçalo Taipa Teixeira said...

Eu ia por uma bandeira de uma cor só, verde, por exemplo, com um par de mãos dadas em perfeita união e cumplicidade.

whity said...

Tão bonito! Já estou inspirada.