Monday, 10 November 2008

Desobedeçam, caros professores!

Penso sinceramente que embora um direito de qualquer cidadão, as manifestações de rua perderam definitivamente o seu significado. Senão repare-se no desligar da comunicação social (talvez a temer a ERC, talvez por causa de algum telefonema) da manifestação que ocorreu no passado sábado. Não foi um qualquer sindicato que a convocou com os trabalhadores de uma fábrica, ou toda a estrutura de trabalhadores do Estado; foram apenas os professores, e sozinhos conseguiram juntar mais gente indignada do que qualquer das últimas a que temos assistido. Qual é o eco da imprensa? Notícias dispersas, dando ideia de normalidade da situação, de ser "mais uma" manif, organizada (como a caracterizou o Primeiro Ministro) por "anarcas", que não querem ordem, nem respeitam a autoridade. Uma notícia, ó narigudo, a figura da autoridade fora da família começa a ser formada nas crianças através do contacto com educadores e professores. Assim foi com todos nós. Assim foi consigo e com os seus comparsas. E depois deve ter lido em qualquer lado que uma sociedade menos culta é mais facilmente manipulável, uma lição escrita em muitos livros, alguns deles de capa enfeitada com suásticas...

A única maneira de realmente ter uma palavra a dizer, numa discussão entre povo e governantes, é seguindo a lição de Thoreau e Gandhi - a Desobediência Civil. Os professores, se querem ter mesmo impacto, parem com as hipocrisias e comecem a seguir as suas convicções, ensinando a toda a sociedade (como é seu apanágio e missão) as lições que a História escreveu, e que parece lema dos Chefes fazer esquecer. Injustiças há muitas, mas quando a união é aparentemente tanta, assim como a solidariedade entre colegas, porque não simplesmente PARAR, e começar só a fazer aquilo para que são pagos e toda a sociedade lhes exige: que sejam os mestres para as futuras gerações.

Parem somente os processos de avaliação, continuando a dar aulas, e cada vez melhor. Apliquem-se na tarefa que vos foi entregue pelos que realmente interessam nesta novela - os pais dos alunos, votantes como cada um de vós, e sensíveis às mudanças que uma aposta real na melhoria do ensino, menosprezando a avaliação, poderia trazer à Escola. Os nossos governantes não esqueceram o ideal de escola democrática e de qualidade, simplesmente resolveram ignorá-lo. O "controlo" das contas públicas pareceu-lhes mais relevante na conquista de votos. Está nas mãos dos professores mostrar ao povo o défice de educação que acontece neste momento em Portugal, e que terá consequências funestas no desenvolvimento do nosso país daqui a uns anos.

A ver vamos se estaremos na altura preparados para reagir a este ataque à formação de inteligência e à vivência da liberdade! Só o respeito pela Educação contribui para desenvolver a cultura. Só pela cultura podemos ser livres! Como diz o outro, façam as contas...

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