Embora seja uma iniciativa de aplaudir, pôr um computador na mão de cada criança portuguesa não está isenta de contras.
É que se o computador vai ser feito, daqui a uns tempos, em Portugal, por portugueses, o que tem a benesse de trazer emprego, não deixa de ser também verdade que esse emprego será parcial ou integralmente pago pelo Estado.
Como tal, embora seja uma empresa privada a beneficiada com este projecto de colaboração, no fim das contas é o dinheiro estatal que está em jogo. Não sendo uma aplicação muito condenável do actual governo, deixa contudo a porta aberta à crítica por diversas razões. Aqui passo a enunciar algumas:
- O governo não deveria usar as ideias alheias e mentir, chamando-as suas. Nicholas Negroponte, um antigo profissional do MIT e actual dinamizador da iniciativa de um computador por criança, se calhar não acharia muita piada ao ver as suas ideias plagiadas pelo governo português. Esta ideia surgiu na AMÉRICA, a tão odiada América, e tem sido desde os anos 80 aplicada em alguns países subdesenvolvidos, como o Senegal e o Cambodja. A apresentação de um dos cérebros desta iniciativa, que pensou em pôr primeiro um computador nas mãos de cada indivíduo antes de pôr alcatrão nas estradas ou cimentar o chão, porque a mente é mais importante que o chão que pisamos.
Os custos totais de cada computador deviam ser tratados com verdade, e não camuflados com créditos escondidos. Há que ter em conta que embora os Magalhães apresentem um custo muito reduzido ou nulo, mensalmente os Encarregados de Educação estarão obrigados a uma mensalidade associada ao pagamento do serviço de banda larga de internet, mas a preços pouco compensadores no actual mercado...
- Embora aparentemente demonstrativa de preocupação social pelos mais pobres, toda esta campanha, e principalmente a forma pomposa como é apresentada, é reveladora de uma preocupação propagandista que, associada a acordos e acções de amizade para com regimes totalitaristas e pró-totalitários, se torna preocupante.
- A usurpação das ideias foi uma das formas utilizadas pela China e o seu governo comunista para conseguir produzir alta tecnologia a baixo custo. Parece que este governo pretende seguir essa via... E se pensarmos nos pactos energéticos e comerciais que têm sido celebrados com países com regimes políticos deste género (como Venezuela, China, Líbano, ...), acho que existe base de preocupação.
http://www.youtube.com/watch?v=D1sQ0LAijrQ (Repare-se como o presidente da Intel classifica o governo português como o primeiro a surgir com esta ideia)
- Do que se vê deste vídeo promocional, e comparando com o produto desenvolvido por Negroponte e companhia, acho o nosso inferior, pois se repararmos no que o design que o computador americano apresenta está muito mais adequado às necessidades e utilizações que os miúdos lhes dão. O americano permite ser uma consola, um ecrãn de televisão, um livro sem papel, que se pode ler mesmo no tamanho de livro, além de centro de trabalho, jogos e interacção com o mundo; o nosso é apenas um instrumento de trabalho.
Anunciar que Portugal está a tentar criar mercado destes computadores na América do Sul é muito estranho se virmos a lista de países em colaboração com a equipa de Negroponte para a divulgação desta iniciativa. A sua lista engloba Argentina e Brasil, entre outros...
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