Friday 19 December 2008

Os abutres e as toupeiras

Os dias nascem solarengos, mas não há maneira de acabar com uma gelante e incómoda sensação de cada vez que se sai à rua. Hoje de manhã fui presenteado com algo adquirido numa loja Natura. O papel de embrulho gelou-me corpo e alma, e a certeza de estar mais uma vez correcto nas minhas conjecturas da vida quotidiana atingiu-me com a força de mil raios paralizantes! A propaganda daquilo que ainda ontem eu aqui tinha escrito já não é feita, por algumas companhias mais audaciosas, de forma disfarçada e abstrusa. Fazem-no como se propaganda política fosse normalmente veiculada por produtos comerciais. E ATÉ O É, EM PAÍSES DE ESTADO TOTALITÁRIO MARXISTA!!!

O problema de lidar com uma ideologia marxista é que não lidamos com uma ideologia puramente política, mas com algo mais intrusivo, uma filosofia de vida (K. Marx era de formação e profissão um filósofo que resolveu ser político nos tempos livres). Sendo liberal quanto às opções de vida de cada um, aceito que qualquer indivíduo viva de acordo com esta ideologia, procurando impôr na sua vida privada e a si mesmo os ideais que com tanto orgulho professa acreditar. Aquilo que eu não admito é que algo tão abjecto como intrometerem-se na vida alheia aconteça justificado pela suposta "maior justiça" desta filosofia. O busílis reside no facto de, visto ser ideologia de vida, o socialismo ensina que devemos forçar TODOS a estar inseridos numa sociedade marxista, porque é mais "justa" (mesmo aqueles que não se lhes querem juntar, pois estes só "ainda não sabem que devem lá estar").

O corporativismo, embora paradoxalmente, veio ajudar à imposição de uma sociedade marxista, pois contribui sobremaneira para a diminuição do índice de cultura de qualquer sociedade através do incentivo ao consumo. O corporativismo e o marxismo, duas ideologias supostamente antagónicas, resolveram juntar forças para vencer a resistência imposta pela informação independente de qualidade (que hoje em dia é quase inexistente, e muitas vezes algo de chacota) e pela formação cultural dos indivíduos que formam o nosso tecido social. Depois de vencer a cultura, é fácil normalizar pois a variedade é na verdade pertença de alguns, e os interesses da população comunizam-se na vontade de ter, largando a actividade individualizante e cultivante de aprender e saber. E para esta estratégia existem alguns factores catalisadores; uma delas é o denegrir da classe formante, para criar uma posição negativa das gerações futuras face à actividade desempenhada por estes profissionais. Falo obviamente dos docentes.

Cuidado com os abutres e as toupeiras; juntos (e mesmo que não estejam concertados) destruirão todos os frutos do trabalho livre de qualquer homem!

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